terça-feira, 16 de abril de 2024

Vida e "Morte"


O tema Vida, para mim, fala naturalmente de "morte".
Digamos que a Morte é a questão mais certa, da Vida...
Desde que nascemos, morremos cada dia, a cada respirar morremos, entre inspirar e expirar, morremos à cada fração de segundo.
Nem sempre, encarei assim, mas ao longo da vida, fui compondo uma sinfonia da morte em mim mesma.
    Meu contato com a Morte,me refiro a "perder" alguém muito cedo veio para mim, aos dez anos, com o falecimento de meu Pai.
    Ali eu vivi muitas coisas ao mesmo tempo e processei como pude.
Ao passar dos anos, fui compreendendo com a própria natureza e por seguir um caminho muito forte espiritualmente falando, que me conduziu também a montar um mosaico da Morte em vida e da Vida, após a Morte...
Olhares que se cruzaram dentro de mim, por conta de diferentes visões ,culturalmente, filosoficamente, religiosamente, que acabei por vivenciar e armazenar em mim, muitas chaves para muitos sentimentos aí.
Mas, este texto, particularmente aos 61 anos, me trás muitas outras abordagens.
Ultimamente, muitas pessoas tem partido, começando por minha mãe que partiu aos 97 anos, em novembro de 2023.
Depois dela, semana sim, semana não, alguém parte.Seja das minhas relações ou de meu esposo e tenho sentido coisas diferentes.
Não me sinto "confortável" em ir a "cemitérios".
Mas, não é por não compreender o ciclo natural da vida, mas para o como observo cada "velório".
Talvez, para o leitor(a) seja difícil compreender o porque sinto desta forma.
Inicialmente, percebo algo em mim, que me remete a recordações acerca dos meus dez anos. 
Na época em que meu Pai faleceu, aconteceu algo comigo, inusitado.
Minha família estava em 'frangalhos' e na época, fiquei no cemitério hora e horas sozinha...
Minha mãe e irmãs, estavam tão mal que não se deram conta que eu havia adormecido na capela em que o corpo de meu Pai fora velado e ao acordar, não localizei ninguém.
Um fato realmente terrível na época.
Eu fiquei ali, andarilhando quase que todo dia, até que ao final do dia, alguém foi me buscar.
Bem, este alguém, era uma pessoa nada intima minha, ou seja, até ver minha mãe e irmãs, eu não sabia se estava "neste mundo ou no outro".
Não estou contando isto para que julguemos, ou que  fiquem penalizados, de forma alguma!
Já trabalhei isto, em vida, com minha mãe e compreendi, elaborei e integrei.
A questão é que toda vez que vou a cemitérios, fico a observar o burburinho, as tantas falas, o modo como cada um reage ali, frente à situação da "perda", do luto.
Isto tem mexido muito comigo!
Não faz muito sentido o que vejo e a única coisa que me faz sentido é orar e respeitar e sendo assim, me reservar o direito de  homenagear quem se foi, "ao meu modo".
Gosto de seguir os costumes indígenas em plantar uma árvore para pessoa e ali conversar com esta pessoa, por um prazo curto de tempo, aceitando seu destino e também seguindo para vida com o meu destino.
É Fato que o que realmente importa é o que fazemos em vida,pois a outra etapa, não é conosco e sim com quem faz sua travessia e quem ampara do outro lado.
Cada um de nós, celebra a vida em vida, como lhe compete, como aceita, e celebra a passagem para vida eterna ou não.
Tudo deverá ser respeitado.
Não me recordo em ter escrito sobre o que me aconteceu quando meu Pai partiu,mas hoje, conto com profunda gratidão,pois se aconteceu, é porque tinha que ser assim, não por outras questões.
Fico  muito mais que agradecida,pois este marco me conduziu a tudo que hoje carrego como visão espiritual da Vida,onde sinto que a VIDA de verdade, segue além desta, vida materialmente falando.
Aqui, temos um corpo, físico que  vai envelhecendo e chega ao ponto em que novamente passará por um processo alquímico até, onde irá se decompor e renascerá para vida eterna.
Nós somos o Chumbo! Por isso menciono a alquimia aqui.
Mas, retomando o fio da meada...
Ultimamente, muitos amigos (as) tem partido.
O que realmente importa é o que fazemos aqui e depois...bem, depois é outro movimento e teremos que lidar com a saudade, que é presença, ou a saudade que é ausência...
São escolhas nossas.
Se teremos que lidar com culpas, mágoas, ressentimentos, raivas...
Por isso reforço:

Que possamos fazer em vida, nosso melhor!
Que possamos dizer: Por todas as relações, agradecemos!
Que possamos fazer!
Ainda que seja um grande esforço, que possa haver leveza no peito.
É muito ruim ficar com o que não é nosso ou mesmo não assumir que sim, foi nossa responsabilidade.
Sigo desconfortável com cemitérios pelo que talvez esteja em um nível de registro muito profundo do como foi para mim e como gostaria que fosse para todos e um dia, estarei também vivenciando minha passagem, sei disto e desde já, enfatizo que está tudo bem!
Tudo está certo!
Não há o que reclamar! 
A certeza de que vivo cada fração de segundos agradecida a vida que recebi e que sei, perfeitamente que não sou infalível, por todas as minhas relações agradeço infinitamente.

Sinto muito se por algo, eu ou meus antepassados causamos algum desconforto,porém, a cada dia, busco ser a melhor versão de mim mesma que alcanço ser.

Gostaria de dizer também, que independente de crenças, possamos respeitar nossa chegada e partida com dignidade.


Aos que ficam, sempre podemos fazer diferente e aos que partem, possam fazer sua jornada em PAZ.

Que a PAZ esteja em nós
Que o AMOR seja aquele que também deixa ir
Que nossos corações possam vibrar a cada novo amanhecer,pois muitos não acordam,muitos!
Minha solidariedade aos que passam por noites escuras da alma, crianças, jovens, adultos, Mães, Pais, filhos(as)...
Incluo aí também, queridos parceiros do reino animal, pois são para mim, anjos que estão aqui para auxiliar aos humanos, a nós...


"A cada momento estamos experimentando o nascimento e a morte..."
---------------
"Este corpo não é o seu verdadeiro lar, é somente um abrigo temporário. Tendo vindo a este mundo, você deveria contemplar a sua natureza. Tudo o que existe está se preparando para desaparecer.  Existe algo, em seu corpo,  que ainda se encontre na sua forma original? A sua pele está como costumava estar? O seu cabelo? Não é o mesmo, é? Para onde foi tudo? Assim é a natureza, assim é como as coisas são. Quando o tempo chega, as formações seguem o seu próprio curso. Não há nada neste mundo com o qual se possa contar - é um ciclo interminável de perturbações e problemas, prazeres e dores. Não há paz.

Em nenhum lugar do mundo pode ser encontrada a paz verdadeira. Os pobres não têm paz e nem os ricos. Os adultos não têm paz, as crianças não têm paz, aqueles com pouca escolaridade não têm paz e nem os que têm muito estudo. Não existe paz em lugar nenhum. Essa é a natureza do mundo.

Aqueles que possuem poucas posses sofrem e da mesma forma aqueles que possuem muitas. Crianças, adultos, velhos, todos sofrem. O sofrimento de ser velho, o sofrimento de ser jovem, o sofrimento de ser rico e o sofrimento de ser pobre - nada além de sofrimento.

Quando você contempla as coisas dessa forma você vê anicca, impermanência e dukkha, insatisfação. Porque as coisas são impermanentes e não trazem satisfação? É porque são anatta, não-eu.

Na verdade não existe um "eu" que pode ser encontrado em nenhum lugar, só existem processos que estão continuamente surgindo e desaparecendo, segundo a sua natureza. A cada momento estamos experimentando o nascimento e a morte. Assim é como as coisas são." -Ajahn Chah (1918~1992).




SIMPATIZO COM ESTE OLHAR TAMBÉM



 

Nenhum comentário:

Postar um comentário